Coluna: Grito com Grito.

Você gosta de música?
Depois de algumas horas de conversa sobre vários temas eis que surge o assunto: música. Um amigo me faz a seguinte provocação: Para onde caminha a música brasileira? Frente a esta situação com respostas no mínimo vagas só pude responder com outra provocação “que música?” A ambiguidade da réplica pode ser resolvida facilmente ao analisar, mesmo que de forma superficial, o que se entende por música contemporânea brasileira. Seria esta a música feita longe das grandes corporações da indústria fonográfica, ou aquilo que esta na boca do povo? O que seria música popular brasileira em 2012? Aquela que é feita pelo povo ou aquela que imposta a este como gosto universal?
Não querendo discutir a questão da liberdade de gosto, que todos têm direito, mas sim, apenas satisfazer uma curiosidade: como pode fazer tanto sucesso gravações musicais com tão baixa qualidade? Entendendo qualidade como um conjunto entre arranjos e letras onde o talento de quem canta dá o toque final. Meia hora ouvindo as estações de rádio que são campeãs de audiência é suficiente para entrar em uma depressão quase irreversível. Uma enxurrada de rimas óbvias e pobres (quando ocorre rima) uma enorme variedade de desafinações onde aqueles com a mínima afinação se destacam como estrelas, refrões infantilizados, jargões absurdos e uma pesada propaganda enganosa fazem o quadro do que pode ser a música popular brasileira.
Seriam estas as músicas que os brasileiros fazem? Ou seriam o que fazem da música as grandes indústrias? As falsificações estão por toda a parte, não é necessário um olhar muito aguçado para vê-las, por exemplo: os sambas já não mais são dos morros, pelo contrário passam bem longe deste e o que se tem são grupos com mais de seis integrantes uniformizados dançando passos ensaiados envergonhando qualquer bamba; duplas sertanejas que mal sabem o que esta palavra quer dizer, formadas por garotões nascidos em grandes centros urbanos longe das dores e dos prazeres do campo, e a simples presença de um sertanejo verdadeiro poderia amedrontá-los e retirar-lhes da face o sorriso alvo e bem tratado; o que se chama de rock é no mínimo uma piada para os roqueiros que sabem o que esta tradição quer dizer, abandonou-se qualquer tipo de rebeldia característica deste gênero e adotou-se uma postura amigável, bandas com bons garotos, corretos e de boa índole cantando músicas voltadas para o amor adolescente, mesmo que da forma mais superficial possível. Estes são apenas alguns exemplos da transfiguração da música brasileira, isso pode ser observado em todas as vertentes musicais.
Esta visão, porém, pode ser confundida com saudosismo ou até mesmo nostalgia, creio não ser o caso, embora no futuro não será fácil esconder o constrangimento de ter pertencido a uma época de tamanha decadência cultural e não poder falar como um senhor que me fala hoje de forma orgulhosa de sua juventude e cita grande nomes da música. É evidente que isso não quer dizer que não exista música de qualidade sendo feita no Brasil, existe sim, o que ocorre é que elas não estão onde o público procura.
Pires de Mello.

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