"No Brasil, a pena máxima por um crime é de 30 anos. Eu pago há 44 anos por um crime que não cometi..."


Moacir Barbosa do Nascimento nasceu em Campinas, interior de São Paulo. De família humilde, assim como a grande maioria dos brasileiros. O ano era 1921, época onde o Brasil ainda se acostumava ao regime republicano e se recuperava dos momentos conturbados do inicio do século marcado por movimentos sociais que influenciaram todo o país.
Barbosa, como era conhecido, teve uma infância difícil e procurou no futebol uma esperança de dias melhores. Logo na adolescência, Barbosa foi contratado pelo extinto Comercial da Capital, como ponta esquerda, mas foi no Ypiranga que achou seu lugar como goleiro.
Em 1945 Barbosa se transferiu para o Vasco da Gama, onde grandes atuações aliado ao tri campeonato carioca o levaram para a seleção brasileira de futebol. Barbosa era uma das referências do time que disputaria a primeira Copa do Mundo em um território americano.
A Copa de 50 era um sonho nacional, a comoção popular foi tanta que os brasileiros enxergavam na conquista do título uma forma de fugir dos problemas sociais e exaltar a nação através do esporte. O time incorporou este espírito e com atuações convincentes e goleadas chegou a última rodada do quadrangular final precisando apenas de um empate frente ao Uruguai para se sagrar campeão mundial de futebol.
No dia 16 de Julho de 1950, mais de 200 mil pessoas (Recorde mundial de público em um jogo de futebol) compareceram ao Maracanã, certos de que o Brasil sairia campeão. Sem muito susto, logo aos 2 minutos de jogo Friaça abriu o placar para o Brasil, e a vitória era questão de tempo. Esfriando o jogo, o Brasil manteve o controle da partida até os 21 minutos do segundo tempo, quando Schiaffino empatou o confronto. Porém foi faltando 11 minutos para o final do confronto que a vida do goleiro Barbosa mudou completamente.
O lance se deu pelo lado direito do ataque uruguaio, Ghuiggia foi lançado, avançou pela direita e bateu... entre a trave e Barbosa... era a virada uruguaia. O lance foi rápido, toda a defesa brasileira assistiu o meia uruguaio entrar sem marcação e bater. Porém somente Barbosa foi culpado. O Brasil não teve forças para reagir. 2x1 e a maior tragédia do futebol nacional de todos os tempos.
Após o confronto, Barbosa foi responsabilizado pela derrota. Ficou estigmatizado como o símbolo do fracasso daquela geração. Não podia sair nas ruas, e sua carreira no Vasco passou por momentos difíceis. Barbosa oscilou entre a titularidade e a reserva por 5 anos, quando se transferiu para o Bom Sucesso, jogando ainda pelo Campo Grande-RJ. Durante este período teve depressão e nunca mais atuou como antes.
Após encerrar a carreira em 1962, Barbosa trabalhou como funcionário da SUDERJ, empresa que gerencia a manutenção do Maracanã. Viveu boa parte de sua vida trabalhando no palco onde a maior desgraça da vida de um jogador poderia acontecer. Barbosa faleceu em 2000, onde vivia recluso e longe de qualquer lembrança que ligasse ao futebol, ao lado de uma filha adotiva.
Barbosa sempre repetia a mesma frase: “No Brasil a pena máxima é de 30 anos. Até hoje eu pago por um crime que não cometi”. No caso do Barbosa, o fanatismo pelo futebol dói tanto a ponto de marcar sua vida para sempre, a ponto de fazer com que por um único lance, Barbosa jamais pudesse dormir sem lembrar aquela fatídica tarde de Julho.

Osni Gustavo Fagundes.

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